O Guilherme detesta sopa de
pacote. Por norma, faço sempre as sopas dele, escolho os ingredientes com
cuidado, a carne é de casa, e o peixe tenho um fornecedor que me arranja sempre
peixe do dia. Por dia come duas sopas diferentes, uma de carne e outra de
peixe. Tenho que ter o stock de sopas sempre sob controlo. Volta e meia dou por
mim a contabilizar as sopas da semana. Esta semana essa monitorização correu
mal. Faltou a sopa da sexta feira à noite. A sopa de peixe.
Não tive tempo para fazer sopa,
mas lembrei-me que no supermercado existem umas sopas de pacote, que utilizamos
quando vamos de viagem. Está feito, Guilherme hoje come sopa de pacote. Tinha
bom aspeto, cheirava bem, tudo para cativar o paladar de qualquer um. Mas algo
correu mal e a sopa foi totalmente rejeitada, coisa que nunca antes tinha
acontecido. Porquê? O que mudou desde Setembro (a última vez que nos ausentamos
da ilha) ?
Mudou os 14 meses, mudou o
paladar, mudou a sua relação com a comida, mudou o facto dele já poder comer de
tudo, o Guilherme não identifica, a sopa de pacote, como a sua sopa. A sopa que
a mãe faz, para ele, única e exclusivamente.
Será que é assim desde sempre? A necessidade de nos sentirmos únicos especiais?
O facto é que aos 14 meses já
parece existir essa necessidade. Rejeitar o desconhecido, nem que seja no
paladar. A idade molda-nos, apura os nossos sentidos, as nossas necessidades, tornam-se diferentes. A sopa do Guilherme fez-me pensar no arroz com atum, ou a
variante arroz com salsichas, a comida de todo o universitário que se preze.
Depois da Universidade nunca mais comi arroz com atum.
Porquê? O que mudou em nós?
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